O livro é
bastante interessante, e você só entende o porquê do titulo, após fazer a
leitura da obra, Galeano começa o livro fazendo uma espécie de analise sobre a
extrema exploração que os países da América Latina sofreram por conta primeiro
do processo de colonização e segundo pelo imperialismo norte-americano, ele nos
lembra que “a história do
subdesenvolvimento da América Latina integra, como já foi dito, a história do
desenvolvimento do capitalismo mundial” p.19 Galeano faz uma descrição da introdução da America Latina na política
neoliberal, onde os países que tem prioridade de receber empréstimos do banco
mundial, são aqueles que buscam o controle da natalidade da população, fazendo
uma crítica as “missões” estrangeiras que buscam esterilizar os nativos da
Amazônia. Diz “Na América latina, é mais
higiênico e eficaz matar guerrilheiros no útero do que nas montanhas ou nas
ruas”. p. 23
Galeno discute a
intensa exploração que América Latina passou durante toda a sua história, deste
a chegada dos colonizadores espanhóis, que não pouparam nada nem ninguém na sua
busca louca por metais preciosos. Primeiro os índios foram subjugados pelos
espanhóis, que trazia uma tecnologia bélica superior a dos índios, além de
várias doenças que ceifaram milhares de vidas e da introdução do cavalo que
muito espantava os nativos, além de se apropriarem da crença na volta de um
Deus (Quetzalcóatl) que voltaria para governar seu povo. Além de utilizar-se de
todas essas técnicas mais modernas, Cortez soube fazer alianças com as tribos
rivais do império inca, o que foi fundamental para a conquista de Tenochtitlán.
Os nativos que sobreviveram foram forçados a trabalhar nas minas em busca de
ouro e prata, muitos morreram devido a pesada rotinha de trabalho, a qual não
estavam acostumados e principalmente as doenças trazidas pelos homens brancos,
alguns cometia suicídio por não suportarem a exploração nas minas. Temos um
relato da história da mineração na cidade de Potosí, que atualmente é uma das
regiões mais pobres da América devido a intensa exploração que sofreu no
passado.
A colonização
foi brutal, a população indígena que quando da chegada do colonizador era de 70
a 90 milhões, um século e meio depois passou para 3,5 milhões. Para ilustrar a desgraça que era trabalhar nas
minas em relação a colonização Portuguesa, Galeano nos fala de Vila Rica e Ouro
Preto, que apesar da grande quantidade de ouro que era extraída chegava a
passar por crises de falta de alimento, já que toda a força de trabalho era
direcionada a mineração. Quando se constatou que não era mais possível utilizar
da mão de obra indígena, passou-se a empregar a força de trabalho dos negros,
vindos da áfrica, que também passavam por condições desumanas, ao ponto de a
expectativa de vida dos escravos que trabalhavam nas minas serem de apenas 7
anos.
Outra questão
importante é o comercio que Portugal manterá com a Inglaterra, o ouro que era
extraído do Brasil ia direto para os ingleses, o que ocasionou a ruína das
manufaturas portuguesas, gerando um atraso no processo de industrialização. Ao
contrário as riquezas acumuladas com este comércio possibilitaram a Revolução
Industrial Inglesa, visto que foi o acumulo primitivo de capital, que permitiu
os investimentos na indústria inglesa.
Da “necessidade
estrangeira”, ou melhor, da necessidade do mercado, o processo de colonização
focou-se também na extração de gêneros agrícola, como o açúcar, café, algodão,
borracha. Que foi baseada no sistema de plantação de monocultura de gêneros
agrícola, tendo o grande latifúndio como perpetuador desse sistema. O
latifúndio açucareiro “destrutivo e avassalador, deixou rochas estéreis, solos
lavados, terras erodidas.”
Tanto o Brasil
como os países da América Central, passaram por este processo de colonização
onde as suas economias ficaram dependentes do mercado internacional, países
onde a economia é toda direcionada a produção de gêneros agrícolas, por sinal,
muito cobiçados pelos mercados consumidores dos países desenvolvidos, como os
Estados Unidos. Temos o exemplo da economia de Cuba, que era baseada na
exportação do açúcar e sofria uma grande influência das empresas
norte-americana no país, influência tanto econômica como política, o que
ocasionou a Revolução Cubana em 1959, que nada mais foi que uma rejeição ao sistema
de exploração que estava sendo empregado pelos americanos no país.
O sistema
escravista baseado no comercio triangular fez a riqueza das nações européias,
até não ser mais adequado as novas exigências do mercado econômico. Foi a
Inglaterra um dos beneficiados deste lucrativo mercado de escravos até se torna
a primeira nação a proibir o escravismo no oceano atlântico. Já o Brasil substitui
a mão de obra negra pela dos emigrantes, visto que a situação desfavorável do
escravismo tornava mais barato pagar os emigrantes vindos da Europa que os
negros da África. “(...) os cafeicultores, convertidos na nova elite social do
Brasil, apontara o lápis e fizeram as contas: eram mais baratos os salários de
subsistência do que a compra e a manutenção dos escassos escravos.”
Outro fato que
Galeano aborda é a questão do “livre comércio” entre os países desenvolvidos
com os subdesenvolvidos, onde os primeiros, de economia forte, se beneficial
enormemente em detrimento das economias mais frágeis dos países pobres. “Os
países ricos, pregadores do comércio livre, aplicam o mais rígido protecionismo
contra os países pobres: convertendo tudo em que tocam em ouro para si e em
lata para os demais”. Temos que as
catástrofes naturais convertem-se em bênçãos dos céus para os países
produtores, já que eleva o preço dos produtos no mercado mundial.
A fragilidade
das economias internas dos países latinos faz com que até os casamentos em
“Antióquia” (Colômbia) seja favorecida ou não pela cotação favorável do
principal produto de exportação interna (café) na bolsa de Nova Iorque.
As elites locais,
dos países da America Latina, donas dos Latifúndios onde “1,5 % dos
proprietários agrícolas latino-americanos possui a metade total das terras
cultiváveis, e a América Latina gasta, anualmente, mais de US$ 500 milhões para
comprar, no estrangeiro, alimentos que poderia produzir sem dificuldade alguma
em suas imensas e férteis terras” Estão mais interessados nas questões que lhes
beneficiam, sacrificam a economia de seus países aos interesses dos países
desenvolvidos, funcionando como simples “instrumentos do capitalismo
internacional, prósperas peças da engrenagem mundial que sangrava as colônias e
semi-colônias”.
Essas elites locais
vendem as suas riquezas, ou melhor, a riqueza de seus países, as empresas
estrangeiras, por preços simbólicos, que muitas vezes não representa um por
cento do preço final da mercadoria que vai ser gerada com aquela matéria prima,
e compra o produto final por preços exorbitantes. A Exploração destas fontes de riqueza naturais,
primeiro os gêneros agrícola como cana, café, algodão, látex, salitre, e depois
dos preciosos metais do subsolo como o cobre do Chile, o estanho da Bolívia e o
petróleo da Venezuela, que tem como objetivo no caso dos Estados Unidos de preservar
suas reservas internas, “primeiro devemos usar as riquezas naturais dos outros
para depois usarmos as nossas”, é sem duvida a causa do desenvolvimento dos
países ricos e a ruína dos países pobres.
A exploração humana e do subsolo ocasionou golpes
de Estado, no caso da Argentina onde “os
freqüentes golpes de estado na Argentina explodem antes e depois de cada
licitação petrolífera”. A busca pelo petróleo é responsável por vários
conflitos mundiais na atualidade, é sem duvida um dos bens mais cobiçados pelo
mercado mundial, “o petróleo é a riqueza mais monopolizada em todo o sistema
capitalista”, o poder gerado por esse recurso natural é capaz de influência nas
decisões políticas de muitos países pelo globo, no caso da América. “A Standard
Oil e Shell levanta e destroem reis e presidentes, financiam conspirações
palacianas e golpes de estado, (...) em todas as comarcas e em todos os idiomas
decidem o curso da guerra e da paz”.
Os Estados Unidos são,
ao mesmo tempo, os principais produtores e os principais importadores de
petróleo no mundo. Tudo isso devesse a
importância estratégica que o produto tem, visto que ganha cada vez mais
importância na indústria química e é o material estratégico para as atividades
militares.
Na segunda parte do
livro, temos uma analise sobre a influência da Inglaterra na economia da
América latina. Desde as roupas mais luxuosas dos senhores de engenho até as
roupas usadas pelos escravos, tudo tinha origem no mercado inglês, sua
influência na economia nacional era forte desde a vinda da família real para o
Brasil colônia e dos acordos econômicos em troca da escolta da família real.
Esses acordos garantiam que os produtos ingleses fossem menos taxados do que mesmo
os que vinham da metrópole portuguesa. O que ocasionava a vinda de mercadorias
sem utilidade prática para o Brasil, como patins de esqui na neve por exemplo.
Os ingleses chegaram a
influência até a devastadora guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai,
onde um dos poucos países a se desenvolver independente das influências
estrangeiras, o Paraguai foi atacado pelo Brasil, Argentina e Uruguai. E um dos
casos mais trágicos no qual o Brasil se envolveu, até hoje, o Paraguai não
conseguiu se recuperar da Guerra da Tríplice Aliança, “herança de uma guerra de
extermínio que se incorporou à história da América Latina como seu capítulo
mais infame. (...) O Paraguai se destacava como uma exceção na América Latina:
a única nação que o capital estrangeiro não havia deformado”. Um agente norte-americano
em viagem pelo Paraguai; em 1845, informava ao seu governo que no Paraguai “não
há criança que não saiba ler ou escrever”. p.266-267
Era uma das economias
que mais crescia na época sem intervenção do capital estrangeiro, um país sem
“mendigo ou ladrões”, quando a guerra começou em 1865 o Paraguai contava com
uma linha telegráfica, uma ferrovia, uma boa quantidade de fábricas de material
de construção, tecidos, lenços, ponchos, papel, tinta, louça e pólvora,
técnicos estrangeiros auxiliavam no desenvolvimento do país. Além de contar com
fábricas de canhão, morteiro e balas de todos os calibres, na capital Assunção
eram fabricados canhões de bronze, obuses e balas. A economia nacional estava
concentrada nas mãos do Estado, ao contrário de outros países da América Latina
em que a economia nacional estava nas mãos do capital estrangeiro, a balança
comercial mostrava um expressivo superávit. “O Paraguai tinha uma moeda forte e
estável, e possuía suficiente riqueza para efetivar enormes investimentos públicos
sem recorrer ao capital estrangeiro.” p.268
A Tríplice Aliança
assinou um tratado 10 de maio de 1865, onde já antecipadamente repartia o
território do Paraguai entre Brasil e Argentina, o Uruguai mais um fantoche não
recebeu nada. O Presidente da Argentina anunciou que tomaria a capital do
Paraguai em três meses. “A guerra, contudo, durou cinco anos. Foi uma
carnificina, executada ao longo do fortins que defenderam, de tanto em tanto,
rio Paraguai. (...) Homens, mulheres, crianças e velhos: todos se bateram como
leões. Os prisioneiros feridos arrancavam as ataduras para que não os
obrigassem a lutar contra seus irmão.” p.272
Quatro nações engolidas
pela guerra, o Paraguai perdeu território e grande parte de sua população. “Os
três países [que venceram a guerra a custa de altos empréstimos] experimentaram
uma bancarrota financeira que agravou a dependência da Inglaterra”. p.273
No século XX a
exploração que era praticada pelos ingleses passa as mãos dos Estados Unidos,
que junto do BID e do FMI, deixam a economia dos países latino-americanos refém
de juros altíssimos e com planos econômicos que privilegiam o capital e
empresas estrangeiras, principalmente, norte-americanos em detrimento da
economia nacional desde países. “Em meados do século XIX, o serviço de divida
externa já absorvia quase 40 por cento do orçamento do Brasil”. p.280
Em 1964 “A embaixada
norte-americana participou diretamente no golpe de Estado que derrubou o
governo de João Goulart. (...) O desenvolvimento capitalista já não se
compaginava com as grandes mobilizações de massa em torno de caudilhos como
Vargas. Era preciso proibir as greves, destruir os sindicados e os partidos,
encarcerar, torturar, matar, e apequenar pela violência os salários dos
operários, de modo que pudesse ser contida, à custa da maior pobreza dos
pobres, a vertigem da inflação”. p.299
Entre 1964 à 1968 as
empresas estrangeiras passaram a controlar “40 por cento do mercado de capitais
do Brasil, 100 por cento da produção de veículos a motor, 100 por cento da
produção de pneus” etc. p. 305 Inclusive a industria de automóveis é uma das
que mais lucra pagando salários bem menores do que o que são pagos nas suas
matrizes nos países ricos, em suas filiais nos países como Brasil e México
pagam salários muito menores do que os da suas sedes na Europa, os incentivos
fiscais dos governos locais como doação de terras, tarifas elétricas
privilegiadas, isenção de impostos, etc. Que deveriam se somar aos baixos
salários para que o produto final fosse mais barato não diminuem o preço desses
veículos, que saem com o preço duas, três vezes mais caro do que o mesmo
veiculo produzido nas matrizes. p.341
“Para que a América
Latina possa nascer de novo, será preciso derrubar seus donos” p.367
Fonte:
GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015.
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