02 abril 2015

A CULTURA DOS POVOS NATIVOS DA AMÉRICA

Astecas, Mochicas e Índios do Xingú
Por Jairo Alves
Introdução

A cultura dos povos nativos da América pré-descobrimento surpreendeu os europeus que “descobriram o continente”, principalmente alguns povos da América Espanhola (Astecas, Incas e Maias), que demonstravam um grau elevado de desenvolvimento cultura, econômico, com técnicas agrícolas elevadas, cultivando varias plantas e uma organização urbana, superior a muitas cidades medievais do velho mundo.
Tenochtitlan a Mesopotâmia da America

A palavra Tenochtitlan, de Tenochtli=figueira da Barbária; o hieróglifo da cidade é uma águia empoleirada num cactus, ou México, etimologia provável: no meio do lago (MAHN-LOT, 1990. P.35). Representa o nome de um dos povos que surpreendeu os espanhóis que “descobriram” a América. 

Tenochtitlan era uma cidade localizada no meio de um lago, governada por um soberano chamado Montezuma. O povo ao qual Montezuma descende são os “Astecas”, um povo que na sua origem, se compunha de tribos nômades do nordeste do México, estes carregavam seu deus “Uitzilipochtli” por onde passavam, até se estabelecer no altiplano e substituírem o povo que lá vivia, os “toltecas”, de língua “nahuatl”, na região de “Tula”.
            As pesquisas indicam que segundo as lendas de Tula, está teria sido governada por um “rei-sacerdote” conhecido como, “Quetzalcoatl”, este teria desaparecido no mar, mas antes advertiu que um dia voltaria para restabelecer seu império. Segundo J. Lafaye os astecas confundiram os espanhóis com seu deus-herói, devendo-se este fato, por causa das lendas “cíclicas do México que dizia, que em 1519 se estava entrando no ‘sol de Quetzalcoatl’”(MAHN-LOT, 1990. P.35).
 As lendas astecas davam conta das eras do mundo serem quatro, havendo quatro “sóis”, cada um terminava com uma catástrofe, a cada 52 anos, recomeçava um ano oficial, ao qual era atribuído um dos quatro signos (sóis), assim em 1519 o ano corrente era “1-caniço”, o que poderia significar a volta do deus Quetzacoatl. (MAHN-LOT, 1990. P.36).
            O soberano de Tenochtitlan o rei Montezuma ficou sabendo da chegada dos espanhóis através de seus mensageiros, que andavam por todo o império asteca, o que constituía uma eficaz rede de informações para o governante, o rei enviou embaixadores ao encontro dos desconhecidos, estes levavam presentes, Montezuma tinha o intuído de saber mais sobre os estranhos, além que seus mensageiros deviam advertir os espanhóis que estes fossem embora. Cortés que ignora as mensagens de Montezuma para que ele não se aproximasse de Tenochtitlan, avança fazendo aliados, geralmente povos subjugados pelo império Asteca.
Más em 03 de novembro de 1519, os espanhóis entram no vale da Cidade do México (Tenochtitlan), desfilando por uma “estrada pavimentada de sete metros de largura e três quilômetros de comprimento” (MAHN-LOT, 1990. P.38), o grau de organização e beleza da cidade deixou os espanhóis estupefatos, mas também os índios, curiosos com o comportamento e as vestimentas dos espanhóis, principalmente com os cavalos.
Montezuma que foi ao encontro de Cortés sentado em uma “esplêndida liteira enfeitada de penas verdes e pedrarias”, encontra Cortés rodeado de seus soldados, que tocavam tambor em macha de guerra, Cortés estava pronto para revidar um ataque se esse acontecesse, ambos encontra-se e passam a conversa, após o dialogo entre os dois perspicaz lideres, Montezuma leva Cortés e seus homens para conhecer a cidade que ele administrava.
O que chama atenção nas pesquisas realizadas sobre os primeiros contatos entre europeu e povos nativos do continente Americano sãos os relatos de organização que os espanhóis encontraram na cidade, como o relato sobre o mercado, durante um passeio de Cortés após se instalarem no palácio real.
Havia comerciantes de ouro e prata, pedras preciosas, penas, tecido (...) havia comerciantes de feijão, de legumes, vendedores de galinhas, de galo das Índias, de cabritos monteses, (...) havia também machados de latão, de cobre e de estanho. Dois dias não bastavam para ver tudo. (MAHN-LOT, 1990. P.39)

Continuam a descrição de Cortés após, terem subido a grande pirâmide (teocalli) de 114 degraus.
Dali víamos as três estradas pavimentadas que trazem à cidade do México (...). Distinguíamos pontos que deixavam a água da laguna, coberta de uma profusão de canos, entrar e sai. O olha voltava à praça repleta de gente. Ouvia-se o rumor das vozes a uma légua de distância. (MAHN-LOT, 1990. P.39)

            Nota-se nas palavras do próprio colonizador, que a cultura asteca os impressionava, pois tinha um grau de avanço na organização urbana da cidade governada por Montezuma, que superava até mesmo muito  do ordenamento urbano de algumas cidades existentes na Europa. “Entre nós, encontravam-se soldados que haviam viajado para a Itália, Roma, Constantinopla” e mesmo assim ficaram surpresos com a beleza da cidade, com a organização, com a animação e harmonia da praça que eles avistavam de cima da pirâmide.
            Cortés ágil nas manobras bélicas, vendo que estava em desvantagem numérica dentro da cidade, faz Montezuma prisioneiro em seu próprio palácio. Depois fez com que Montezuma jurasse fidelidade ao imperador espanhol Carlos V.
            Após o governante jurar lealdade ao Imperador da Espanha, Cortés lhe explica que agora ele deve pagar tributos ao soberano europeu, Montezuma entrega sem resistência o tesouro de seu pai escondido no palácio (MAHN-LOT, 1990. P.40).
            No entanto, Cortés deve ir imediatamente para Vera Cruz, pois uma expedição punitiva foi enviada contra ele pelo governador de Cuba. Cortés vai ao encontro de seu oponente e vence a batalha, só que quando o mesmo retorna para Tenochtitlan a cidade esta “insurreta”, pois o “lugar-tentente” (Alvarado) que ele havia deixado na cidade para tomar conta da posição ocupada, ordena um massacre aos sacerdotes e nobres que estavam planejando um complô contra eles.
Os astecas “impõe uma difícil retirada para os espanhóis”, vários soldados espanhóis e astecas morrem nessa insurreição, inclusive o soberano asteca Montezuma que tentando acalmar a multidão revolta leva uma pedrada na cabeça.
            Após a trágica retirada de Cortés da cidade do México, este e seus soldados recuperasse dos ferimentos e preparam-se nos territórios dos seus aliados, os nativos tlaxcalteca, para retomar a cidade do México. Constrói três bergantins (um pequeno barco), armado com canhões retoma a cidade do México em uma dura batalha, conquistada “casa por casa” “corpo a corpo” vários espanhóis são capturadas e “sacrificados no altar dos adoratorios, diante de seus compatriotas horrorizados...”.
            A 13 de agosto de 1521, o sobrinho de Montezuma, “Cuauhtemoc” que estava liderando a defesa da cidade se rende. Passa algum tempo preso como reféns até se condenado a morte por Cortés.  
            A derrota sofrida pelos povos nativos da America espanhola diante dos europeus não está só no armamento utilizado pelo conquistador, mas também, a várias doenças que os europeus trouxeram nos navios e que os índios não tinham como se defende.

Mochicas
Em artigo de Júlia Priolli (PRIOLLI, 2010, P.48-51) publicado no mês de setembro da Revista Aventura na História, há um estudo sobre outra nação da America Espanhola, os mochicas que teriam vivido na “costa norte do Peru”, o pouco que se conhece desta civilização perdida, deve-se a sítios arqueológicos e a cerâmicas encontradas em escavações realizadas no local onde a mesma viveu.
            A partir da analise que os arqueólogos fizeram de pinturas em um mural em relevo de Huaca de La Luna (costa norte do Peru) foi possível conhecer, a forma que os guerreiros mochicas eram recebidos após retornarem de uma batalha com prisioneiros. Eles eram recebidos com festa pelos membros da elite, que se vestiam com seus melhores trajes e usado seus melhores “enfeites”, se dispondo através do caminho percorrido pelos guerreiros dançado e cantando, até a área da entrada do templo para o cerimonial. Os guerreiros estavam ornamentados com plumas e pinturas no corpo, carregando suas armas de guerra “maças de madeira ou metal”, nas quais penduravam as armas e adornos de seus inimigos derrotados. Já os prisioneiros de guerra andavam “nus, e atados pelo pescoço por uma corda”.   
            O povo Mochica desapareceu mil anos antes de os incas dominarem os arredores andinos, ficando poucos vestígios de sua cultura, viveram entre os séculos 100 a.c. e 600 d.c., quando foram desaparecendo ou foram absorvidos por outras culturas.
            A costa peruana, muito árida e com dunas, fornecia pesca e coleta de alimento, o mar garantia peixes e algas a base da alimentação, havia também uma sofisticada rede de canais e dutos, que irrigavam o deserto para não dependerem das chuvas.   
            Por não terem escrita usavam as pinturas em cerâmicas e murais para representar sua cultura, a cerâmica mochica se espalhava por uma região ampla, sendo objeto de comercialização. A sociedade era “hierarquizada, com uma elite expansionista, que faziam decapitações e guerra”.  
            O governante era considerado um semi-deus, que era sempre acompanhado por um militar, os símbolos de seu poder era a coroa e o cetro do poder, este usava uma narigueira de cobre e ouro, que servia para encobrir a sua face em respeito a sua natureza divina. Pinturas corporais representavam o estado social e o clã do indivíduo, “abaixo do rei, encontravam-se os sacerdotes e depois os chefes militares, os nobres, os artesãos e os pescadores, sucessivamente”(PRIOLLI, 2010, P.50).
            Os rituais Mochicas incluíam o sacrifício de pessoas de preferência prisioneiros de guerra. “Nos rituais, virgens atiravam-se no abismo sob o efeito de um cacto alucinógeno conhecido hoje por ‘são pedro’” (PRIOLLI, 2010, P.50).
            Não se sabe com certeza os motivos do desaparecimento desta rica cultura pré-colonização, mas alguns estudos apontam para fatores climáticos.
Mas para não falar só dos povos da America Espanhola, vejas uma reportagem do mês de Maio de 2008 da Revista Nova Escola sobre um povo nativo da Amazônia, que não tinha o grau de desenvolvimento dos Astecas, por exemplo, mas que também não era tão atrasado como se imaginava antes das pesquisas. 

Índios do Xingu       

Pesquisas recentes vem mudar o que se pensava dos povos nativos que viviam no Brasil pré-descobrimento. É conhecido o fato dos povos da America Espanhola terem uma cultura bastante avançada como os Maias, Astecas e Incas em detrimento dos povos da America Portuguesa, mas pesquisas recentes que estuda os povos da Amazônia brasileira mostra que se os povos que habitavam o Brasil pré-descobrimento, não foram tão avançados como os povos da América Espanhola, eles tinha uma organização bem vais avançada do que se pensava. 
            O estudo dos “sambaquis”, encontrados em diferentes áreas do território nacional mostra que não era só “amontoados de conchas e restos mortais”, mas eram edificações que serviam de moradia (DIDONÊ, Revista nova escola, 2008, p.42). Servindo como prova de que havia um grau de organização destes povos.
            Outro fato interessante de estudar o período histórico do Brasil compreendido entre 10 mil anos atrás é saber da existência de animais de grande porte, como a preguiça-gigante. E saber que com estes animais viviam os antepassados dos índios que foram encontrados no Brasil descoberto pelo Europeu, como a descoberta de Luzia, que através da reconstituição craniana revelou o rosto de uma possível ancestral dos índios que aqui viviam.
            Segundo os estudos do arqueólogo Eduardo Neves (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo-MAE-USP) é possível compreender que por volta dos anos 400 e 1300, cerca de 40 mil pessoas chegaram a habitara a ilha de Marajó, “morando em casas de chão batido construídas sobre palafitas de terra, que costumavam ser maiores nas famílias mais abastardas”(DIDONÊ, Revista nova escola, 2008, p.44).
O estudo sobre a organização da sociedade destes povos mostra que o homem era responsável pela pesca, enquanto a mulher cuidava da aldeia, da roça e da produção de cerâmica.
Muito interessante os artefatos arqueológicos encontrados na região, como “Tangas” femininas de cerâmicas destinadas a adolescestes de uma classe mais abastarda, o que demonstra o grau de organização e ordenamento da sociedades, com alguns indivíduos com mais importância que outros na estrutura organizacional da comunidade, os adornos de alguns membros demonstram o status na sociedade, essas tangas com “traços referentes aos genitais” era usadas como rituais de passagem para a vida adulta de moças de uma classe mais distinta.
 Os estudos de Eduardo Neves sobre relevos em torno dos “montículos” (palafitas feitas de terra preta e cacos de cerâmicas) revelam que estes serviam “tanto para proteger casas contra alagamentos como para demonstra poder” pois tinham tamanhos variados, haviam também uma divisão de tarefas para a construção destes montículos,“havia chefes supremos, mas não reis nem Estados” (DIDONÊ, Revista nova escola, 2008, p.45) Há vestígios de conflitos entre tribos rivais, mais nada se compara ao extermínio que os índios sofreram quando da chegada do europeu, que escravizaram os índios e transmitiram doenças. Os poucos sobreviventes foram para o interior.

BIBLIOGRAFIA
DIDONÊ, Débora. O Brasil antes do Brasil. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 21, n 212, p. 42-49, Maio/2008.
 MAHN-LOT, Marianne. A Conquista da América Espanhola. Tradução Marina Appenzeller. São Paulo: Papirus, 1990.
PRIOLLI, Júlia. Mochicas: a sociedade perdida. Revista Aventuras na História, São Paulo, Edição 86, p.48-51. Set/2010.









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