Por Jairo Alves
Os Estados Unidos é uma nação
relativamente nova, se comparado a outras nações do mundo, tem uma história
bastante singular entre os países do continente americano, começando pelo seu
processo de colonização em relação às demais nações americanas, em um espaço de
tempo muito curto, passou de uma ex-colônia européia, para uma das maiores
potência do mundo. E num tempo relativamente pequeno, passou a interferir nos
interesses de outras nações, ou melhor, nos seus interesses dentro de outras
nações, principalmente os da América Central e do Sul.
Palavras Chave: Expansão, Imperialismo,
Intervenção.
Surgimento da Nação
A historiadora Mary Junqueira diz que
apesar de os Estados Unidos serem uma nação jovem, constitui-se hoje como uma
das mais “antigas repúblicas e a mais velha democracia” do mundo, vivendo com
uma constituição que vêm deste a sua origem. Não nós esqueçamos que os Estados
Unidos, ou melhor, a sua independência (1776) foi um “farol” que irradiou
pensamentos libertarias antes mesmo da Revolução Francesa (1789) e junto com
está teve participação muito importante para a história do continente
americano, como nação inspiradora ideologicamente. Assim, a ideia de a nação norte-americana
ser vista como “um centro irradiador” da cultura Humanista, faz com que outras
nações busque segui o seu exemplo, principalmente nos assuntos referentes à
política. Tem sido o curioso destino dos Estados Unidos exercerem imensa
influência no mundo moderno sem que eles mesmos compreendam cabalmente a
natureza dessa influência.
Vejamos as influências culturais que
temos hoje na musica, roupa, alimentação e a língua inglesa que chega até nós,
principalmente com o cinema, que sempre mostra os americanos como defensores da
humanidade e sendo extremamente patriotas. Recentemente tivemos a visita do
presidente Barack Obama e o País parou para assistir pela TV o seu discurso.
Junqueira nos adverte que “os Estados
Unidos não são um país homogêneo”, existindo assim, conflitos internos:
O mito que os norte-americanos são um
povo excepcional, uma país fadado ao sucesso – especialmente o econômico – e
que são, de alguma forma, condutores da humanidade não é recente. Ele foi
elaborado durante o século XIX. É um mito fundador da identidade nacional
norte-americana e que permeia a cultura daquele país.
Já no final do século XIX os Estados
Unidos começam a exercer sua influência no continente americano de forma mais
incisiva “anexando algumas ilhas do caribe e intervindo na América Central”
durante a consolidação de seu papel de nação controladora da America, os
Estados Unidos dizimaram índios, segregaram negros e excluíram imigrantes, num
processo conduzido por homens brancos, anglo-saxões e protestantes.
O historiador inglês Eric Hobsbawm
afirma no seu consagrado livro Era dos Extremos, que o papel de potência
mundial que os norte-americanos têm hoje, foi devido a sua participação na
primeira e segunda guerra mundial, diz “as guerras foram visivelmente boas para
a economia dos EUA. Sua taxa de crescimento nas duas guerras foi bastante
extraordinário” , os americanos passaram a fornecer recursos “praticamente
ilimitado”, e posterior a guerra fez empréstimos para os países envolvidos no
conflito, dando uma margem de retorno muito boa para os americanos. Por outro
lado esse papel de destaque dos norte-americanos nas duais guerras é o
resultado de todo um processo de expansão imperialista que ocorreu no século
XIX.
No fim do século XIX, a indústria
norte-americana já prosperava, o que ocasionava a necessidade de novos mercados
consumidores. Nesse período o imperialismo dos países europeus sobre a Ásia e
África preocupou os Estados Unidos, que procurando se firmar como potencia
imperialista na América. O país começou a intervir na política interna dos
países que surgiam durante o século XIX, principalmente após o seu processo de
independência da metrópole espanhola. Temos um dos maiores exemplos de intensa
influência interna em Cuba além da Nicarágua e a colonização de algumas ilhas
do Caribe. Além que, a independência de algumas colônias espanholas foram
incentivada pelos norte-americanos, como no caso do panamá.
Por volta de 1823 surgiu a
possibilidade de uma aliança entre os países europeus para reconquistar as
antigas colônias da Espanha, a Santa Aliança constituía-se da Prússia, Áustria
e Rússia, nisso o então presidente James Monroe lança a famosa “Doutrina
Monroe”, onde reconhece “os direitos de todos os povos americanos à
autodeterminação nacional”. Há uma critica muito discutida, onde se diz que a
parti desta Doutrina a América passou a ser não “América para os americanos”
mas “América para os Norte-Americanos”, que nos dá a noção de como era o
imperialismo norte-americano.
Conflitos na América Central,
Interesses Americanos ou Norte Americanos?
Desde o fim do século XVIII que os
Americanos tinham um particular interesse em Cuba, que até 1890 ainda era
colônia Espanhola, apesar de vários conflitos internos por independência. Foi
só em 1895, em mais uma revolta interna, que buscava a independência que os
Estados Unidos viram a oportunidades de apóia o movimento, visando interferir
futuramente nas relações com o mesmo, o congresso norte-americano reconheceu
como legitima a causa cubana a favor da independência contra a Espanha e
enviara um navio para “proteger os cidadãos e as propriedades
norte-americanas”, só que o navio Maine afundou após um explosão misteriosas, a
Espanha foi considerada culpada pela Explosão e os Estados Unidos entrara na
Guerra, no mesmo ano os americanos venceram os espanhóis com certa facilidade.
Desde período em diante se inicia um
processo de anexações de ilhas como a de Porto Rico, Filipinas e Havaí. Só que
com o fim da Guerra Hispano-americana os Estados Unidos não garantiram a
independência de Cuba mas a transformaram em um protetorado norte-americano,
ficando o país governado por uma junta militar de 1898 à 1902. A partir de 1902
os norte-americanos deixam a ilha, mas antes força o governo cubano a incluir
uma emenda a constituição cubana, a famigerada “Emenda Platt” proposta pelo
senador americano Orville Platt, na “qual os Estados Unidos teriam o direito de
intervir na ilha em vários assuntos cubanos”, tudo isso em nome da “ordem” e “estabilidade”
do país. Vejamos o que diz o Artigo III da Emenda Platt:
III - Que o governo de Cuba permita que
os Estados Unidos exerçam o direito de intervir no sentido de preservar a
independência cubana, manter a formação de um governo adequado para a proteção
da vida, propriedade e liberdade individual.
As constituições que em uma democracia
normal devem ser a representação máxima da vontade de um povo, visto que
representa o bem comum e geral de toda uma nação e por isso chega ater um
caráter sagrado. No caso de Cuba, do inicio do século XX, teve seus direitos
usurpados pelos americanos, nos evidência como os Estados Unidos tem uma
política voltada para o Imperialismo mundial, característico do período de fins
do século XIX. Temos ai, o embrião da Revolução Cubana, em que a população
brutalmente explorada, resolveu dá um basta nessa condição de “País de faz de
conta”.
Outro episódio digno de ser comentado e
é mais uma prova do Imperialismo norte americano na America Central, é a famosa
história de construção do Canal do Panamá, este território fazia parte da
Colômbia, e segundo alguns estudiosos teve a sua independência arquitetada
pelos norte-americanos, assim em 1903 o Panamá se torna independente da
Colômbia, os Estados Unidos reconhecem essa nova nação de “imediato”, em troca
cria-se dentro do Panamá uma espécie de zona neutra ou “zona do canal – uma
região de 16 quilômetros de largura” que unia o oceano Atlântico ao Pacífico ,
evitando a circunavegação dos navios americanos por toda a América Latina.
Um dos presidentes Norte-Americanos que
aprofundou a Doutrina Monroe foi Theodore Roosevelt, que completou a Doutrina
com o que ficou conhecido como Big Stick (porrete grande), “Segundo ele, os
latino-americanos são gente com a qual o governo norte-americano deveria falar
suavemente, mas com um big stick na mão”.
A questão ideológica é primordial em
qualquer conflito bélico, no caso do Imperialismo norte-americano, que buscava
introduzir conceitos e valores norte americano, a outras culturas diferentes da
sua, como no caso da cultura das ex-colônias espanholas, geravam um certo grau
de desvalorização.
Os norte americanos esperavam afeiçoar
as sociedades coloniais de acordo com o seu modelo político e ideológico, de
modo que elas pudessem habilitar-se para se governarem a si mesmas ou para
serem admitidas na própria União. Notemos que os estados conseguidos do México
tanto por compra como por conquista foram incorporados a nação.
Os estudiosos apontam dois períodos de
expansão norte-americana. O primeiro entre 1803 até 1853, que foi um período de
crescimento interno, de movimento através do país desde a costa oriental até a
costa ocidental, e de duas guerras de 1812-1814 com a Grã-Bretanha e a Guerra
Mexicana de 1846-1848, que embora não estivesse essencialmente ligado à
aquisição de novos territórios, envolveu consideráveis e reconhecidos
interesses expansionistas. E em 1853 este processo de expansão interna se
completa com a compra de mais um pedaço de terra do México por dez milhões de
dólares.
Já o segundo período de expansão se dá
em um período anterior a Guerra Civil, quando se desenvolve a idéia
norte-americana de uma missão nacional. Que missão é essa? Difundir a cultura
“superior do povo do norte” aos de cultura inferior, principalmente aos povos
do sul.
A secularização dos primitivos
conceitos puritanos, o sentido cresceste do pacto que o povo norte-americano
celebrara consigo mesmo durante a Revolução a na sua Constituição, a
consciência intensificada de um destino norte-americano único, e a crença nesse
destino, levaram inúmeros estadunidenses a apoiar sinceramente os vários
argumentos em favor da expansão.
A vitória federal na Guerra Civil
reforçou a idéia de missão. E em 1867, os Estados Unidos compram o Alasca da
Rússia. Segundo Woodward se o período anterior foi meramente expansionista,
segundo outros estudiosos, o desenvolvimento entre 1898 a 1920 foi genuinamente
imperialista.
Como dito anteriormente a política do
Big Stick possibilitou a intervenção norte-americana na Nicarágua, em Honduras e
na República Dominicana. Em 1917, a os EUA compraram as Ilhas Virgens da
Dinamarca. As Ilhas Milho, que pertencentes à Nicarágua, foram arrendadas com a
finalidade de servir como base de defesa da entrada do Caribe, e assim proteger
o estratégico canal do Panamá, além de reivindicarem-se minúsculos atóis de
coral para instalarem-se estações de comunicação, como diz Woodward o “Caribe
passou a ser um lago norte-americano.”
Em alguns casos os EUA não ganharam
economicamente com a colonização, visto que submetia a suas colônias ao mesmo
sistema econômico interno, vejamos que o Alasca e o Havaí foram submetidos à
lei tarifaria norte-americana ao serem anexado, e Porto Rico em 1900 e as Ilhas
Filipinas em 1909. Isso se dava devido às colônias serem todas produtoras
primárias que encontravam nos Estados Unidas os seus principais mercados.
Observasse este fato quando da rejeição das Filipinas de se desmembrar dos EUA
em 1933. A independência nesse caso significaria a gradual exclusão do sistema
protetor norte-americano.
Segundo Jean Fichou o sistema de
colonização americano apóia-se na lei de mercado, no equilíbrio entre a oferta
e a procura, entre a produção e o consumo. Um Expansionismo ditado pela lei do
lucro necessitando de matérias-primas que faltem no continente (cana-de-açúcar)
ou que não são renováveis (petróleo). “É preferível então consumir as dos
outros antes de usar as próprias”.
Vejamos que a expansão norte-americana
a partir de 1890, só ocorre após a balança comercial ter se tornado positiva
ocasionando a expansão de filiais das companhias que precisaram ser protegidas.
Jean Fichou introduz um conceito
interessante sobre a questão expansionista dos EUA, e faz um debate sobre os
americanos serem ou não imperialista no sentido exato do termo. Ele argumente
que os americanos possuem poucas colônias ou dependências, sendo em sua maioria
insignificantes, vejamos que as colônias que os países europeus possuíam na
áfrica eram imensos territórios. Por outro lado são “imperialistas visto
exercerem uma influência considerável e crescente sobre várias nações. Se seu
território não cresce, pelo contrário, eles consolidam sua influência sobre um
vasto terreno”
Fichou ainda introduz o conceito de
“Neo-Imperialismo”, a forma expansionista dos americanos:
trata-se de uma forma de
neo-imperialismo. Em vez de enviar as carroças, eles enviam os vendedores. Eles
não colocam governadores à frente das nações estrangeiras, mas controlam,
freqüentemente de modo oculto, as economias e, portando, as culturas. Não é
fácil distinguir o imperialismo “ofensivo” do imperialismo “defensivo”.
Notemos que os americanos possuem um
certo numero de “dependências”, pequenas áreas de terras fora do seu espaço
natural, em sua maioria ilhas, como já foi mencionado, que tinham finalidades
estratégicas, Samoa, Guam, Havaí, ilhas Marshall etc.
Os Estados Unidos utilizou-se de várias
técnicas para adquirir estes territórios. Primeiro a “negociação”,
inicialmente, quando adquiriram as ilhas Samoa, Segundo a “sustentação de
movimentos revolucionários” animados ou teleguiados por cidadãos americanos
(Nicarágua), Terceiro a “força” enviando Marines para intervenções diretas como
ocorria freqüentemente em Cuba, Quarto a “compra pura e simples” de um
território e de sua população (Compra da Luisiana em 1803, e do Alaska em
1867). E por ultimo a “defesa dos cidadãos americanos” que tinham seus bens ou
sua propriedade ameaçados por outras nações (Texas, Havaí).
Se analisarmos a guerra do Vietnã
notaremos que ela representou o primeiro grande fracasso militar dos
americanos, onde tivemos a oposição de armas de tecnologia das mais avançadas
até então a armas e técnicas de guerrilha ultrapassadas, que mesmo primitivas
do ponto de vista tecnológico, levou consideráveis baixas paras as forças
armadas americanas. Essa derrota militar segundo Fichou acabou sendo positivo
para os americanos já “conduziu o país a se questionar pela primeira vez sobre
sua força real, sobre seu poder de persuasão, sobre a exemplaridade de sua
cultura.”.
Considerações Finais
Os Norte-Americanos perceberam sedo,
que quando se tem interesses econômicos em jogo, deve-se utilizar não só as
armas convencionais mais a guerra ideológica, os regimes totalitários souberam
utilizar-se da propaganda para alcançar seus objetivos, que era iludir as
massas, no caso dos norte-americanos convencer sua população da necessidade de
expansão, usando como discurso da não-expansão, o que parece contraditório, se
não pensarmos que antes de se envia as tropas para solucionar um conflito em
alguma área em litígio, os americanos primeiro fazem toda uma propaganda de
defesa dessa intervenção militar. Em nome da paz? Talvez da paz dos interesses
americanos. E da expansão do modo de vida americano, onde todos são livres para
se expressarem ou possuir uma arma.
Como diz Eduardo Galleano “em toda a
América Central, os embaixadores dos Estados Unidos presidem mais do que os
presidentes” o intervencionismo dos Estados Unidos nas questões internas dos
países da América Central faz com que estes países funcionem como “apêndice
natural” dos americanos.
A ‘guerra cultural’ é assassina da
escala das gerações pois os produtos transformam o modo e vida, a as técnicas
provocam a mutação dos modos de pensamento e das heranças. A civilização
coca-cola apenas faz bolhas Atualmente temos a Doutrina do
Anti-Terrorismo, que a partir dos ataques do 11 de Setembro, norteia todas as
ações de intervenção militares no Oriente Médio. Atacar primeiro, quando do
surgimento de qualquer indício de atividade terrorista, para perguntar depois
se os indícios tem fundamentos.
Vivemos o Imperialismo dos Estados
Unidos atualmente, mas não o imperialismo de conquista territorial, e
espoliação clássica dos recursos naturais, mas o imperialismo ideológico que
domina nossas mentes e nos faz querer inconscientemente ser norte-americanos,
talvez isso se deve ao modo de vida americano, que vai aos poucos dominando as
mentes das novas gerações, que vivem alienadas dentro do sistema capitalista de
consumo.
BIBLIOGRAFIA
FILHO, Daniel Aarão Reis et. al.
(Org.). O século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 2000. p.67-92
FICHOU, Jean-Pierre. A Civilização
Americana. São Paulo: Papirus, 1990.
GALLEANO, Eduardo. As Veias Abertas da
América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra 2004.
JUNQUEIRA, Mary Anne. Estados Unidos: a
consolidação da nação. São Paulo: Contexto, 2001.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos – O
breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
WOODWARD, C. Vann (Org.). Ensaios
Comparativos sobre a História Americana. São Paulo: Editora Cultrix, 1967.
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