O livro trata-se do estudo realizado em
conjunto por Norbert Elias e John L. Scotson, em uma pequena cidade da
Inglaterra, que recebeu o nome fictício de Winston Parva, no final dos anos 50,
do século XX. Onde a partir da analise da comunidade de trabalhadores, é
possível notar regras históricas de comportamento universal, contra grupos
discriminalizados como mulheres, negros, pobres e deficientes etc.
Tradicionalmente o que difere os
indivíduos nas relações de poder em uma sociedade são características bem
definidas como nacionalidade, etnia, cor, raça, renda salarial e até mesmo
nível educacional. Mas neste estudo, realizado por Elias, a única diferença
entre os membros desta comunidade era o tempo em que seus moradores residiam na
pequena cidade, que era composta por moradores antigos residentes no local, a
duas ou três gerações, denominados como “Estabelecidos”, e moradores novos,
recém instalados, denominados como “Outsiders”.
As normas tradicionais de análise
aplicada ao estudo de sociedades humanas residentes em um mesmo local, seus
conflitos sociais gerados por “posse monopolista de objetos não humanos, tais
como armas ou meios de produção”, não se aplicam a esse caso. O que se tem é a
coesão de grupo por consciência de pertencimento a um grupo antigo de
moradores, que acaba excluindo todos os indivíduos não pertencentes a essa
unidade social. A coesão do grupo acaba dando acesso aos “Estabelecidos” aos
melhores cargos e posições importantes na organização social da localidade,
enquanto os “Outsiders”, eram sumariamente excluídos das posições chaves na
sociedade. Os “Outsiders” eram estranhos não só ao “alto grau de coesão de
famílias que se conheciam havia duas ou três gerações”, mas entre si, a falta
de coesão entre os moradores recém chegados garantia a posição de privilégio
dos moradores antigos nas posições sociais importantes da comunidade.
Outra característica observada em
Winston Parva, algo comum na relação de poder entre grupos opostos, é que o
grupo “Estabelecido”, tinha uma tendência a formava uma auto-imagem positiva de
seus membros, a partir de exemplos de alguns moradores que se destacavam entre
eles. Enquanto o grupo dos “Outsiders”, tinha a tendência a serem caracterizado
pelos “Estabelecidos”, como os representantes do pior da comunidade, como
humanos inferiores.
“Um grupo só pode estigmatizar outro
com eficácia quando está bem instalado em posições de poder das quais o grupo
estigmatizado é excluído” p.23
Essa característica é importante já que
o grupo dominante considera que os membros de seu grupo têm algo que os
diferencia do restante, “uma espécie de carisma grupal”, o que os torna
superiores e melhores e que falta a quem não faz parte do grupo. Isso acaba
gerando um efeito nos dominados, que passa a se verem pela ótica do dominador.
“Mas ainda, em todos esses casos, os
indivíduos ‘superiores’ podem fazer com que os próprios indivíduos inferiores
se sintam, eles mesmos, carentes de virtudes – julgando-se humanamente
inferiores”. p.20
A análise do autor mostra que o grupo
“Estabelecido” compartilhava de um estilo de vida próprio e um conjunto de
normas sociais estabelecidos por anos de convívio, algo que ultrapassava gerações
e fortalecia a coesão do grupo. “Eles observavam certos padrões e se orgulhavam
disso”. Algo que os “Outsiders” não compartilhavam, por serem de fora, e
estranhos aos costumes locais. Os “Outsiders”, por não observarem as normas e
padrões específicos que eram obrigatórios a um membro dos “Estabelecidos”, auto
excluíam-se. Os Estabelecidos viam os recém chegados como uma ameaça a seu modo
de vida tradicional, reagiam se fechando e excluindo aqueles que não
partilhavam dos mesmos valores.
“O contato mais íntimo com eles,
portanto, é sentido como desagradável. Eles põem em risco as defesas
profundamente arraigadas do grupo estabelecido contra o desrespeito às normas e
tabus coletivos, de cuja observância depende o status de cada um dos seus
semelhantes no grupo estabelecido e seu respeito próprio, seu orgulho e sua
identidade como membros do grupo superior” p.26
A primeira parte do livro, pagina 07 a
50, trata-se do estudo de diferentes relações de poder entre dois grupos de
pessoas que, do ponto de vista clássico de diferenciação de classes, não se
difere muito, mas tão somente pelo tempo em que ambos habitam o mesmo espaço
físico. É possível observar nesse estudo características de outros grupos
humanos em diferentes sociedades que são discriminados por pertencerem a um
grupo que não se encaixa ao padrão estabelecido pela classe dominante como na
cultura Hindu e Japonesa. A parte final, pagina 51 até o fim do livro, são os dados
estáticos e a metodologia utilizada pelo autor para realizar a pesquisa.
Fonte: ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e Outsiders:
sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Edição Zahar, 2000.
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