13 outubro 2015

Os Estabelecidos e os Outsiders

O livro trata-se do estudo realizado em conjunto por Norbert Elias e John L. Scotson, em uma pequena cidade da Inglaterra, que recebeu o nome fictício de Winston Parva, no final dos anos 50, do século XX. Onde a partir da analise da comunidade de trabalhadores, é possível notar regras históricas de comportamento universal, contra grupos discriminalizados como mulheres, negros, pobres e deficientes etc.

Tradicionalmente o que difere os indivíduos nas relações de poder em uma sociedade são características bem definidas como nacionalidade, etnia, cor, raça, renda salarial e até mesmo nível educacional. Mas neste estudo, realizado por Elias, a única diferença entre os membros desta comunidade era o tempo em que seus moradores residiam na pequena cidade, que era composta por moradores antigos residentes no local, a duas ou três gerações, denominados como “Estabelecidos”, e moradores novos, recém instalados, denominados como “Outsiders”.


As normas tradicionais de análise aplicada ao estudo de sociedades humanas residentes em um mesmo local, seus conflitos sociais gerados por “posse monopolista de objetos não humanos, tais como armas ou meios de produção”, não se aplicam a esse caso. O que se tem é a coesão de grupo por consciência de pertencimento a um grupo antigo de moradores, que acaba excluindo todos os indivíduos não pertencentes a essa unidade social. A coesão do grupo acaba dando acesso aos “Estabelecidos” aos melhores cargos e posições importantes na organização social da localidade, enquanto os “Outsiders”, eram sumariamente excluídos das posições chaves na sociedade. Os “Outsiders” eram estranhos não só ao “alto grau de coesão de famílias que se conheciam havia duas ou três gerações”, mas entre si, a falta de coesão entre os moradores recém chegados garantia a posição de privilégio dos moradores antigos nas posições sociais importantes da comunidade.

Outra característica observada em Winston Parva, algo comum na relação de poder entre grupos opostos, é que o grupo “Estabelecido”, tinha uma tendência a formava uma auto-imagem positiva de seus membros, a partir de exemplos de alguns moradores que se destacavam entre eles. Enquanto o grupo dos “Outsiders”, tinha a tendência a serem caracterizado pelos “Estabelecidos”, como os representantes do pior da comunidade, como humanos inferiores.

“Um grupo só pode estigmatizar outro com eficácia quando está bem instalado em posições de poder das quais o grupo estigmatizado é excluído” p.23

Essa característica é importante já que o grupo dominante considera que os membros de seu grupo têm algo que os diferencia do restante, “uma espécie de carisma grupal”, o que os torna superiores e melhores e que falta a quem não faz parte do grupo. Isso acaba gerando um efeito nos dominados, que passa a se verem pela ótica do dominador.

“Mas ainda, em todos esses casos, os indivíduos ‘superiores’ podem fazer com que os próprios indivíduos inferiores se sintam, eles mesmos, carentes de virtudes – julgando-se humanamente inferiores”. p.20

A análise do autor mostra que o grupo “Estabelecido” compartilhava de um estilo de vida próprio e um conjunto de normas sociais estabelecidos por anos de convívio, algo que ultrapassava gerações e fortalecia a coesão do grupo. “Eles observavam certos padrões e se orgulhavam disso”. Algo que os “Outsiders” não compartilhavam, por serem de fora, e estranhos aos costumes locais. Os “Outsiders”, por não observarem as normas e padrões específicos que eram obrigatórios a um membro dos “Estabelecidos”, auto excluíam-se. Os Estabelecidos viam os recém chegados como uma ameaça a seu modo de vida tradicional, reagiam se fechando e excluindo aqueles que não partilhavam dos mesmos valores.

“O contato mais íntimo com eles, portanto, é sentido como desagradável. Eles põem em risco as defesas profundamente arraigadas do grupo estabelecido contra o desrespeito às normas e tabus coletivos, de cuja observância depende o status de cada um dos seus semelhantes no grupo estabelecido e seu respeito próprio, seu orgulho e sua identidade como membros do grupo superior” p.26

A primeira parte do livro, pagina 07 a 50, trata-se do estudo de diferentes relações de poder entre dois grupos de pessoas que, do ponto de vista clássico de diferenciação de classes, não se difere muito, mas tão somente pelo tempo em que ambos habitam o mesmo espaço físico. É possível observar nesse estudo características de outros grupos humanos em diferentes sociedades que são discriminados por pertencerem a um grupo que não se encaixa ao padrão estabelecido pela classe dominante como na cultura Hindu e  Japonesa. A parte final, pagina 51 até o fim do livro, são os dados estáticos e a metodologia utilizada pelo autor para realizar a pesquisa.

Fonte: ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e Outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Edição Zahar, 2000.  

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